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Ele era meu psiquiatra, mas minha virgindade o interessava mais que minha saúde mental -#minhahistor

Créditos da imagem: Richard Watkins

 

Quando eu entrei na faculdade, em 2013, eu entrei em depressão profunda. Eu perdi o contato com todos os meus amigos, não tinha ânimo para sair da cama para fazer nada, costumava chorar até dormir, não conseguia dispor de energia pra me vestir então usava a mesma roupa todo dia. O estopim foi quando tentei suicídio. Três vezes.


Uma vez encontrei uma faca de porcelana da minha mãe que era a faca mais afiada lá de casa e me tranquei no banheiro. O plano era me cortar no chuveiro e deixar a água correr para limpar o sangue. Eu não consegui abrir a faca por que estava muito bem embalada.


A segunda vez eu tentei me jogar na frente de carros em uma avenida movimentada, mas meu namorado me segurou, não sei se por instinto, ou se ele realmente entendeu o que eu queria.


A pior vez foi quando encontrei o revólver do meu pai. Segurei ele como se fosse a solução de todos os meus problemas, mas não encontrei munição. Passava horas e horas planejando como iria tirar minha própria vida.


Meu namorado era o único que sabia. Ele me disse que eu deveria procurar a ajuda dos meus pais. Reuni todas as minhas forças e contei pra minha mãe, uma conversa que foi mais choro do que palavras, mas ela entendeu. Naquela semana ela marcou uma consulta em um psiquiatra que meu próprio namorado recomendou.


Créditos da imagem: Richard Watkins


Chegando lá, ele parecia um médico como qualquer outro, mas eu me incomodava com as perguntas sobre minha vida sexual e como ele dava risada quando eu dizia que era virgem. "Mas por que você é virgem?" "Eu ainda não encontrei o momento certo"- eu dizia - "e quando vai ser o momento certo?".


Ele me pedia para eu tirar a blusa e colocar um avental atrás de um biombo pra ele me examinar. Primeiro ele media meu peso, todo mês, usava um adipômetro para ver minha massa corporal e também media minha pressão. Usava o estetoscópio nas minhas costas e no meu peito para escutar minha respiração, apalpava meus braços (?) e meu abdômen. Ele me diagnosticou com depressão leve e me disse que se eu quisesse mesmo me matar eu já teria morrido (!) e me deu remédios para ansiedade.


Créditos da imagem: Richard Watkins

Continuei me consultando mensalmente. A insistência de todo mês perguntar sobre minha virgindade me fez pensar que eu talvez devesse fazer sexo pelo bem da minha saúde mental. Meu namorado, que também estava passando por momentos difíceis, tinha terminado comigo, então eu decidi perder a virgindade com um rapaz que eu tinha conhecido há alguns meses. Foi horrível, como costuma ser para muitas meninas.


Minha mãe se consultou com o mesmo psiquiatra já que estava tendo muitas crises de ansiedade porque estava completando o doutorado. Quando ela saiu da consulta ela me disse: "não gostei desse médico, ele não leva a sério o que a gente fala".


Minha mãe e eu decidimos mudar de psiquiatra, para uma mulher que foi indicada por uma colega dela. Eu e essa nova psiquiatra conversamos por duas horas sobre meu problema. Ela me diagnosticou com depressão grave e me sugeriu fazer análise com uma psicóloga, além de manter uma medicação para depressão e regular meu sono. Desde então tenho apresentado reais melhoras na minha condição.


Créditos da imagem: Richard Watkins

Agora a pior parte: cinco anos depois de tudo eu retomei o contato com aquele meu namorado que me indicou o psiquiatra. Ele também estava se consultando com ele. Eu perguntei se o psiquiatra pedia para ele tirar a blusa para usar o estetoscópio ou se ele usava o avental. Ele disse que o psiquiatra nunca tinha feito nenhum exame físico com ele (!!!!).


Foi então que eu percebi que eu não era somente menosprezada por ele por ser mulher, mas como também sofri algum tipo de abuso sexual, porque ele me fazia tirar a roupa e me tocava.


Ser mulher é foda.

 

* Relato enviado via e-mail como parte da campanha #minhahistoriadeviolencia lançada pelo Instituto Mana em fevereiro/18. A identidade da mulher que sofreu a violência foi preservada em respeito a escolha dela.


Quer participar também? Compartilhe o seu relato nas suas redes sociais com a hashtag #minhahistoriadeviolencia ou envie sua história para o nosso e-mail: oinstitutomana@gmail.com

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