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Afinal, o que Querem as Mulheres Empoderadas?


Ilustração de: Helena Ravenne



Muito temos falado ultimamente sobre empoderamento feminino, mas acredito que, as vezes, a intenção acaba sendo desvirtuada entre quem emite e quem recebe a mensagem, fazendo com que aquilo que deveria inspirar autoconfiança acabe por gerar mais inseguranças e autocobrancas ou, pior, novas imposições sobre modos de ser e agir para ser uma mulher “de valor". Empoderamento, para mim, significa ao mesmo tempo reconhecer nossas vulnerabilidades e, a partir dai, construir nossa força. Ficar negando quem somos (ou quem temos sido até agora), nos criticando por não sermos tão “desconstruídas” quanto a fulaninha não adianta muita coisa. Para não cairmos nessa armadilha acho importante pensarmos no empoderamento como algo subjetivo: cada mulher tem o seu poder e seu modo de expressar esse poder e, mais especificamente, cada mulher sente os impactos do machismo de uma forma e intensidade diferentes de acordo com sua realidade, o que vai impactar diretamente nas revoluções internas e externas que ela priorizará. Para algumas, empoderar-se significa finalmente colocar aquele shortinho curto, vestir roupas que mostram mais o corpo ou explorarem seu lado mais sexy, pois para elas isso pode significar um passo enorme na direção oposta às imagens distorcidas que muitas de nós fazemos de nós mesmas em virtude do padrão de beleza imposto goela abaixo, fazendo com que nos sintamos feias, indesejáveis ou privadas de nossa sexualidade. Para outras mulheres, no entanto, empoderamento pode significar vestir-se de forma mais modesta, a fim de dar mais ênfase a outras qualidades pessoais e não apenas a sua sexualidade ou aparência, pois para elas, a hipersexualização de seus corpos é uma opressão significativa. Para algumas mulheres, empoderamento significa ultrapassar o espaço doméstico e explorar o mundo de outras formas, trabalhando para seu próprio sustento ou de sua família, ganhando seu próprio dinheiro e conquistando independência, afinal, sabemos que ainda é forte o estereótipo social de que lugar de mulher é em casa, cuidando de marido e filhos. Para outras mulheres, no entanto, empoderamento pode significar, justamente, a escolha de ficar em casa, dando atenção exclusiva a sua cria, pelo tempo que ela achar importante, sem a pressão de ter que voltar logo a trabalhar para provar alguma coisa a quem quer que seja ou para cumprir uma exigência de produtividade capitalista. Para algumas mulheres, empoderamento significa ter acesso ao anticoncepcional, para que elas possam finalmente ter controle sobre a sua reprodutividade enquanto para outras, empoderamento é deixar de usar a pílula, pois elas conseguem enxergar os impactos negativos do uso indiscriminado desse medicamento na saúde da mulher e acreditam que outras opções devem ser ofertadas, respeitando os ciclos femininos. Para algumas mulheres, empoderamento pode significar a escolha de ter um parto cesárea, não para a conveniência de seu/sua obstetra ou porque ela está sendo influenciada por medos infundados tais como não ser forte o suficiente, não ser capaz, não ser seguro ter parto normal ou pior, com base em laudos mentirosos que indicam problemas com o feto, mas simplesmente porque assim elas decidiram e em um mundo onde as mulheres são respeitadas, sua voz e suas escolhas também o são. Da mesma forma, empoderamento para tantas outras mulheres significa ter apoio, estrutura, auxílio e informação suficientes para ampararem sua escolha por um parto normal, sendo a ela assegurados uma equipe médica respeitosa e um procedimento livre de xingamentos, pressões psicológicas, exames invasivos e desnecessários, no qual suas decisões e opiniões sejam de fato ouvidas e consideradas. Essa lista poderia continuar indefinidamente, mas acredito que a ideia principal pôde ser compreendida: Não há um modelo único e fechado do que seja uma “mulher empoderada”. Não existe um checklist exigindo certos critérios de aparência, atitude e ocupação que, após seguidos, te garantirão empoderamento.


Esse é um processo longo, diário, que exige principalmente bastante autoconhecimento - para identificar nossos próprios padrões - e consciência social - para identificar as opressões que mais nos atingem- para a partir dai irmos quebrando nossas correntes. A base de tudo, no entanto, é entender que empoderamento feminino é sobre assegurar às mulheres possibilidades reais de fazerem ESCOLHAS de acordo com a sua própria consciência e o direito de serem reconhecidas e respeitadas como pessoas dignas, com valor intrínseco, independente dos contextos em que estão inseridas ou das escolhas feitas.

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