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Estamos livres?

Nós, mulheres, já ganhamos muitas batalhas na luta pela igualdade social. Conquistamos o direito ao voto, controle reprodutivo, conseguimos entrar no mundo acadêmico tanto quanto alunas quanto como professoras, somos ótimas profissionais, e somos praticamente consideradas como seres humanos na sociedade. Mas ainda há uma pergunta que não quer calar: nós somos livres?



As autoras Nayla Louhana de Sá Martins e Mariane Morato Stival, que escreveram o artigo UMA ANÁLISE FEMINISTA: ESTAMOS LIVRES? PADRÕES DE BELEZA, OBJETIFICAÇÃO DO CORPO FEMININO E CULTURA DE ESTUPRO (clique para abrir o artigo), nos dizem que não.


As autoras argumentam, de forma extremamente lúcida, que muito embora as mulheres tenham ganhado poder nas sociedades contemporâneas, tanto em termos legais quanto profissionais, paralelamente aumentou a pressão social em torno de sua adequação ao que a mídia acredita ser 'belo'. Garotas, ainda no começo de sua adolescência, têm se tornado neuróticas em busca de um corpo perfeito e literalmente passado fome, desenvolvendo distúrbios alimentares, recorrendo às cirurgias plásticas e sofrendo, como consequência, de ansiedade e depressão crônicas. Agora a mulher pode votar, estudar e ser bem-sucedida profissionalmente, porém ela nunca será magra e bonita o suficiente, nunca terá o nariz, o cabelo, as bochechas, os olhos, a vulva ou a cor perfeita, o que nos leva a essa procura incessante para nos enquadrarmos num padrão, não num ato de autovalorização, e sim de pura obediência a um conceito machista e opressor.

Baseado em grandes autoras como Atkinson (2013), o artigo nos informa que a mídia vem trabalhando sem descanso no sentido de apresentar o que é considerado "mulher perfeita". Revistas, filmes, comerciais e programas de televisão empurram goela abaixo a ideia de que, para ser bonita, uma garota necessita estar sempre policiando o que come, o que veste, deve ter a pele alva e perfeita, cabelos loiros e lisos, pernas longas, e, obviamente, ser magra, bastante magra.



Angelin (2005) nos diz que essa ideologia de 'beleza física' acaba gerando uma inversão de valores, nos quais a busca por um corpo perfeito é considerada um sinônimo de aceitação social, geralmente confundida com a felicidade. Não estamos falando, neste ponto, a respeito de auto estima, mas de como a sociedade vê a pessoa forra do padrão de beleza estabelecido pela mídia.




Os estereótipos da beleza feminina são apresentados em quase todos os meios de comunicação, bombardeando as mulheres com imagens que retratam o que é considerado como corpo ideal. No entanto, como diz Sedar (2016), tais exemplos de beleza são praticamente impossíveis de serem alcançados pela maioria feminina, uma vez que tais propagandas trazem garotas muito abaixo do peso e que não são nem saudáveis. Dietas cada vez mais mirabolantes, jejuns intermitentes e promessas de emagrecer são as capas da maior parte das revistas direcionadas a mulheres, tudo com o objetivo de nos aprisionar num modelo de beleza fixo e inalcançável.


Segundo Naomi Wolf (1992), escritora do livro que vamos ler no Clube das Manas de maio, quanto mais as mulheres venceram obstáculos no âmbito legal, mais rígidas e inalcançáveis foram as imagens da beleza feminina a elas impostas. Os distúrbios alimentares cresceram paralelamente com a diminuição do peso das modelos, uma neurose em massa acometeu as mulheres e a cirurgia plástica tornou-se a mais lucrativa das especialidades médicas nas últimas décadas. A mesma autora ainda afirma que um maior número de mulheres dispõe de mais dinheiro, poder, maior campo de ação e reconhecimento legal do que antes. No entanto, em termos de como nos sentimos do ponto de vista físico, podemos realmente estar em pior situação do que nossas avós não liberadas. Não é por acaso que tantas mulheres potencialmente poderosas se sentem dessa forma. Estamos em meio a uma violenta reação contra o feminismo que emprega imagens da beleza feminina como uma arma política contra a evolução da mulher: o mito da beleza.




Nesse ínterim, uma pesquisa realizada pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo (2014), apresentou que 77% das jovens deste Estado têm inclinação a sofrer de algum distúrbio alimentar como anorexia, bulimia e/ou compulsão por comer. Entre as entrevistadas, 85% afirmaram existir um padrão de beleza imposto pela sociedade, e 46% acreditam que mulheres magras são mais felizes. Wolf diz que atualmente a modelo ou atriz jovem e esquelética tomou o lugar da dona de casa perfeita e passiva como arquétipo de feminilidade bem sucedida.


A definição de ser desejada sexualmente, nos diz Gavrieli (2012), quase se assemelha a ser como uma estrela pornô. Frequentemente, milhares de garotas estão concordando em serem filmadas em uma situação íntima para agradar seus namorados. E mais frequentemente ainda, essas gravações são repassadas para colegas ou mesmo publicadas na internet; a moral do garoto agressor permanece intacta, mas em contrapartida, a vítima experimenta o slut-shaming, discursos de ódio, depressão, ataques de pânico e até mesmo, em alguns casos, o suicídio.


A busca pela beleza ideal criou um lucrativo mercado no mundo capitalista, usando as mulheres bonitas como mercadoria e influenciando as feias a comprarem seus produtos para que possam compensar sua feiura. Angelin nos explica que a mulher é explorada como um objeto nos grandes meios de comunicação e isso tem influenciado de forma negativa as sociedades.


É importante explicar como esse padrão do que é ser bela não é apenas opressor, mas também racista e segregacionista. O artigo que mencionamos no início desse texto informa que desde crianças, as meninas veem filmes de princesas da Disney ou até mesmo brincam de Barbie, e uma maioria gritante dessas personagens são apresentadas como magras, brancas e loiras. Sem nenhuma ou pouca representatividade, as meninas e jovens negras assimilam desde muito cedo que são diferentes porque estão longe do que é considerado "belo", uma vez que possuem cabelo crespo, nariz largo e pele escura (ARRAES, 2014). A verdade é que o exemplo de feminilidade ocidental é o da mulher branca, e é necessário demonstrar que as mulheres negras experimentam consequências ainda mais graves na tentativa de se enquadrarem em tal padrão, pois possuem características totalmente opostas àquelas pregadas pela mídia e herdaram a ideia, com raízes nos tempos de escravidão, de que seus corpos são sinônimo de exploração sexual e trabalho braçal, diferentemente da meiguice e fragilidade branca feminina (ARRAES, 2014). Não precisamos lembrar vocês de todo o racismo propagado nas redes sociais quando a Lupita Nyongo foi eleita a mulher mais bonita do mundo.




Embora possamos dizer que a mulher nunca esteve tão livre sexualmente quanto é agora, a mídia prega ser seu corpo seu principal atributo. A ditadura da beleza é propagada de forma maciça pelos anúncios publicitários, colocando o corpo feminino como um objeto desprovido de emoções e personalidade e que deve ser usado, violado e massacrado.


O mito da beleza assumiu sua tarefa de controle social a partir do momento em que as mulheres se libertaram do papel feminino da domesticidade. Essa ideologia da beleza é tão violenta, que hoje em dia tem como função a coerção social, já que os mitos da maternidade, castidade e passividade não mais conseguem oprimir o sexo feminino como fazia antes das grandes ondas feministas.


Este tema tão interessante será o que abordaremos no mês de maio! Para ajudar as manas na reflexão, vamos divulgar outros textos e realizaremos eventos ao longo do mês.


Lembramos vocês que no dia 10 de maio, amanhã, às 19h, na Livraria Leitura do Amazonas Shopping realizaremos um roda de conversa sobre o tema “Padrão de Beleza”. A mediadora será Rafaele Queiroz: bacharel em Serviço Social, atualmente cursando Ciências Sociais na UFAM e aluna pesquisadora do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), com pesquisa na área de Antropologia Social na qual estuda os efeitos do racismo na autoestima da mulher negra e como os grupos ativistas de estética negra ressignificam a autoestima destas mulheres. A roda de conversa será com base no texto: “Uma Análise Feminista: Estamos Livres? Padrões de Beleza, Objetificação do Corpo Feminino e Cultura do Estupro”, cujo pdf está disponível no início deste texto.


No dia 30 de maio nós realizaremos mais um Clube das Manas, onde discutiremos o livro "O Mito da Beleza: como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres”, um livro feminista, publicado por Naomi Wolf em 1991 nos Estados Unidos e, no Brasil, em 1992. Wolf analisa, na obra, cinco áreas e suas relação com a beleza feminina: emprego, cultura, religião, sexualidade, distúrbios alimentares e cirurgia plástica. Uma das conclusões é de que essas áreas, ao criarem e exigirem das mulheres uma atenção extremada, atuam como empecilhos para que as mulheres obtenham prestígio e poder na sociedade.



Por fim, informamos que durante o mês receberemos e publicaremos textos escritos por qualquer pessoa que tenha interesse em dar a sua opinião a respeito do tema "Padrão de Beleza"! É só enviar o texto por e-mail para oinstitutomana@gmail.com




Esperamos que vocês façam uma ótima reflexão a respeito do tema do mês e esperamos vocês nos nossos eventos!


Texto por Anne Paiva



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