Me prendi a um relacionamento abusivo achando que era apenas uma fase - #minhahistoriadeviolencia
Créditos da imagem: Katherine Streeter
Neste relato, a mana que preferiu manter sua identidade em sigilo, nos conta como se descobriu em um relacionamento abusivo após tentar justificar os sucessivos abusos emocionais e físicos do ex-namorado devido ao luto que ele vivenciava.
Olá Manas,
Gostaria de compartilhar com vocês minha história de violência que aconteceu há exatamente dois anos. Eu namorava um rapaz um ano mais velho que eu (tenho 22 anos agora, começamos a namorar eu com 18 e ele com 19), e ele havia perdido a mãe para o câncer. Eu cuidei dele, o apoiei no que pude apoiar e esperei o tempo dele.
Como dizem por aí, no começo tudo é uma mar de rosas... no nosso namoro foi diferente pois ele estava em luto. Ele era possessivo, ciumento, estúpido nas palavras e eu aceitava por medo de perdê-lo e por entender que era a fase. Mas não, não era a fase!
"Eu não podia sair sozinha, não podia falar com ninguém (principalmente homens), tinha que deixar ele mexer e revirar todo o meu celular, minhas redes sociais eram restritas, tudo!"
Fui morar junto quando completamos um ano de namoro, só eu trabalhava (das 7h até às 17h) e pagava o aluguel, comprava a comida, pagava as contas e ele cuidava da casa, “nossa, que rapaz prendado, não é mesmo? Você deveria estar agradecida!” - ele me dizia. E eu me sentia uma inútil por estar cansada e não poder transar, por não querer fazer festas na casa com os amigos dele (amigos que viraram meus amigos também, porque nesse meio tempo eu perdi os que eu já tinha, ele me afastou, até chantagem emocional fez). Eu não podia sair sozinha, não podia falar com ninguém (principalmente homens), tinha que deixar ele mexer e revirar todo o meu celular, minhas redes sociais eram restritas, tudo!
Chegou um dia que brigamos muito feio e ele me derrubou no chão com um chute. Eu passei dois dias com dor (mas não pude ir ao pronto-socorro pois ele dizia que iria passar) e ele riu na minha cara dizendo que eu merecia porque era muito “rebelde”.
Semanas depois, dei um tapa nele durante uma briga e ele me deu um murro. Saí correndo, era um dia chuvoso, escorreguei e caí no chão, ele me arrastou até à casa novamente dizendo que eu estava ficando louca.
Muitas brigas e alguns tapas depois, eu saí do emprego, fui trabalhar em outra empresa, saímos da casa pois estava pesado só pra mim e voltei pra casa da minha mãe. Conversei com ela, decidi terminar. Ele ameaçou se matar, disse que tinha me traído, foi em lugares onde eu estava, falava mal de mim para as pessoas...
E hoje? Hoje eu estou livre de tudo isso, com marcas, porém curada e aprendi na pele o que é viver no inferno. Queria que todas as mulheres que passam por isso soubessem que elas não são culpadas de nada, elas podem se livrar, isso não é amor, é doença e pode ser tratada!
* Relato enviado via e-mail como parte da campanha #minhahistoriadeviolencia lançada pelo Instituto Mana em fevereiro/18. A identidade da mulher que sofreu a violência foi preservada em respeito a escolha dela.
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