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E homem, tem lugar de fala?


Arte: designdeconversas.com.br

 

Nos últimos anos tenho pensado sobre o que é ser homem e qual deve ser o lugar de fala de um homem. Por que nós homens insistimos em querer discutir feminismo e rogar um lugar de fala nesse campo ao invés de entendermos que a nossa contribuição deveria ser de apenas ouvir e entender que aquele lugar de fala não nos pertence? Não é novidade que esse assunto é simplesmente NEGLIGENCIADO pelos homens. "Para que falar sobre o que é ser homem? É só ser!" Eu digo veementemente que NÃO!


A construção do que é ser homem começa nos primeiros meses de vida. Temos nomes de meninos, nomes de meninas, cores de meninos, cores de meninas, uma infância voltada para meninos, outra para meninas, conseqüentemente uma indústria que fornece os apetrechos para que essa infância projetada seja viável. Em todas essas oposições, a dominação masculina começa a ser forjada.


É necessário ser forte, pouco sensível, jogar futebol, andar sem camisa por aí, só andar com os meninos e falar grosso, "fazer coisas de menino". "Ai daquele que começar a falar mole". Quando algo que não é considerado normal para


o comportamento de um menino já levanta suspeitas, preocupações e consultas, com especialistas, são, prontamente, marcadas para saber "o que há de errado com meu filho."

Pois bem. A questão que gostaria de trazer aqui é relacionada a como os homens são criados para serem fortes e as mulheres para serem frágeis e no quanto isso tem estragado as pessoas e contribuído para que o machismo estrutural e os outros tipos de machismo continuem plenos e ativos na nossa sociedade e para que, igualmente, o homem nunca questione o seu lugar de fala e nem a sua construção enquanto homem.

Falar sobre masculinidade é falar sobre machismo? SIM. Não há dúvidas de que existe um aspecto desse tema, acerca do machismo, onde as mulheres têm lugar de fala, visto que são àquelas que mais sofrem com isso. Ainda assim, gostaria de ousar e tentar conversar com os homens que estão lendo esse texto.


O que é ser homem para você? Particularmente, nos últimos anos, tenho radicalizado minha postura em relação a isso. Ser homem é abrir a porta para a mulher passar e você dar uma olhadinha nela? É ser educado com sua amiga mulher e falar dela no seu grupo de amigos do futebol de Quarta-feira? Ser homem é ser "cavalheiro" na frente da sua "crush" e quando estiver só com homens falar dela de maneira porca e nojenta? Esses exemplos corriqueiros que listei não são exemplos de como ser homem. São exemplos de como ser um macho escroto que tem na "brotheragem" uma oportunidade de reforçar estereótipos de como se vestir, falar, pensar. Nesses espaços, a palavra mulher vira insulto e ser gay é o insulto final, o ápice. "Seu viadinho!". "Porra, André! Vira homem!"


"Ué, André! Você não é machista também?" É a pergunta que mais ouço quando abordo esse assunto. Minhas respostas têm se baseado na seguinte reflexão: "Eu, enquanto um ser que fora criado em uma sociedade machista, sim, sou machista. Não por natureza, mas por construção. Agora, a minha luta repousa no fato de que, levando em consideração que sou machista e que houvera uma construção sobre quem eu sou, preciso refletir e assumir que o meu machismo é nocivo para as mulheres com quem eu me relaciono e a partir daí, ter uma postura vigilante em relação a isso, sempre tendo na dialética com essas pessoas um parâmetro para que a minha presença seja suportável e quem sabe até agradável. Além disso, por meio da reflexão e da desconstrução, saber qual é o meu lugar de fala. O reconhecimento do lugar de fala é fundamental para a conquista da igualdade.


Finalmente, gostaria de reforçar que uma vez que há o debate sobre masculinidade, assumindo sua necessidade e urgência, ou seja, se há um lugar de fala que nós homens precisamos reconhecer e começar a discutir sobre, por que ainda queremos roubar o lugar de fala das mulheres e queremos ensiná-las sobre quem elas devem ser? Para nós homens, a Masculinidade é um lugar de fala, de desconstrução daquilo que fora estruturado em nós e a Feminismo deverá ser um lugar onde somos ouvintes e só.


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